quinta-feira, 14 de março de 2013

Governo se une ao Grameen Bank para combater a pobreza no Marajó

Estratégia de enfrentamento da pobreza no Estado, será implantada primeiramente no Arquipélago do Marajó, que tem os mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) do Pará.

Conceder financiamento a juros baixos e sem cobrança de garantia, para pessoas de baixa ou nenhuma renda, é o objetivo da parceria firmada entre o Governo do Pará e o Grameen Bank, conhecido como “Banco dos Pobres”. A estratégia de enfrentamento da pobreza no Estado, que aproveitará o know-how de mais de 30 anos da instituição financeira, será implantada primeiramente no Arquipélago do Marajó, que tem os mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) do Estado.
A parceria com o governo do Pará será efetivada por meio do Banco do Estado do Pará (Banpará), com a intermediação do professor Huzzatul Islan Latifee, diretor presidente do Grameen Bank, que está no Pará fazendo uma visita técnica a alguns municípios do Marajó.
Na próxima segunda-feira (18), o grupo começará as reuniões de trabalho para traçar o perfil da linha de microcrédito que será oferecida no Estado. O professor Latifee também terá uma audiência com o governador do Estado em exercício, Helenilson Pontes, na próxima semana.
O Grameen Bank foi criado em Bangladesh, na Ásia, pelo economista bengalês Muhammad Yunus, como um banco de microcrédito destinado a beneficiar famílias da aldeia de Jobra. A iniciativa foi agraciada, em 2006, com o Prêmio Nobel da Paz.
Pro Paz – A visita do professor Latifee é intermediada pelo programa Pro Paz, e começou na última terça-feira (12) pelos municípios de Soure e Salvaterra, e terminará no domingo (17). Ele passará ainda pelos municípios de Cachoeira do Arari, Breves, Curralinho, Muaná, Ponta de Pedras e Melgaço.
Também integram a comitiva o gerente de Área do Pro Paz, Jorge Bittencourt; o diretor de Microcrédito do Banpará, Mauro Palheta, e a gestora do projeto Território da Cidadania, do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Jaqueline Diniz.
Ao final da visita será feito um relatório do cenário de negócios sociais no Marajó, para a definição da estrutura final do formato do financiamento de microcrédito, com base em um modelo que beneficie a parcela da população que está na linha da pobreza.

O professor Latifee explicou que, para o desenvolvimento do programa, devem ser consideradas a densidade populacional da região, a cultura local e a estrutura legal.
Ele destacou a importância da iniciativa do Governo do Pará em procurar formas de combater a pobreza no Estado, e ressaltou que, com compromisso forte e apoio das autoridades, é possível desenvolver um programa aos moldes do que foi criado em Bangladesh.
“É um bom sinal essa iniciativa do Governo do Estado. O apoio a esse processo é muito importante para o sucesso do programa. Nós sabemos que é possível desenvolver a sociedade investindo em negócios das pessoas mais pobres. Esse programa de microcrédito é diferente de tudo o que as empresas financeiras praticam no mercado, e nossa experiência diz que dá certo, e tenho certeza que aqui também será possível trabalhar esse formato”, afirmou o professor Huzzatul Islan Latifee.
Recursos – O desenvolvimento de negócios sociais é uma das estratégias adotadas para promover o desenvolvimento econômico e social dos 16 municípios do Arquipélago do Marajó.
Segundo Jorge Bittencourt, o governo do Estado dispõe de R$ 10 milhões para investir em pequenos negócios nos municípios marajoaras, desenvolvendo projetos já existentes e incentivando a criação de novas iniciativas nas comunidades.
“Estamos trabalhando na lógica de desenvolvimento de negócios sociais para o combate e enfrentamento à pobreza no Marajó. Já temos recursos para isso, mas precisamos saber de que maneira investir esse crédito, para que as pessoas mais pobres possam usufruir desse benefício e desenvolver a comunidade em que vivem. Por isso, a experiência do Grameen Bank é fundamental nesse processo, e a gente espera que ao final dessas visitas se consolide uma estrutura de financiamento sólida e duradoura, que possa ser aplicada em nosso Estado”, afirmou Jorge Bittencourt.
Para Mauro Palheta, do Banpará, o principal aprendizado com o modelo de microcrédito criado pelo Grameen Bank é cultural, já que o programa propõe uma mudança de comportamento, tanto para a instituição financeira quanto para quem recebe o financiamento.
“A maioria das cooperativas, por exemplo, é instruída a tomar créditos bancários, mas a maioria não sabe exatamente como fazê-lo e nem como manter a estrutura lucrativa, para poder honrar seus compromissos. A orientação técnica é fundamental nesses casos, e nós, enquanto banco, temos que instruir na cultura de conceder crédito, e não dar investimentos, ajudando no desenvolvimento da capacidade empreendedora dessas pessoas”, declarou Mauro Palheta.
Visitas – Em Soure, no primeiro dia de reconhecimento dos potenciais de desenvolvimento, o professor Latifee visitou duas queijarias, uma indústria de derivados de coco e dois pontos de artesanato, que utilizam couro e cerâmica.
Na microempresa Laticínios Mironga, o professor conheceu o sistema de preparação do queijo do Marajó, e toda a cadeia produtiva existente em torno do rebanho de búfalos do arquipélago. A fábrica, que pode beneficiar até mil litros de leite por dia, trabalha, em média, com 300 litros/dia.
Segundo o proprietário do “Laticínios Mironga”, Carlos Augusto Nunes, o búfalo é um instrumento de inclusão social no Marajó, onde as famílias podem ter uma boa qualidade de vida gerada com o fornecimento de leite, e utilizar a tração animal na manutenção de plantações. O búfalo, acrescentou, além de ser uma fonte de renda, é um atrativo para crianças e adolescentes que aprendem, desde cedo, a manejar o animal, e ver isso como um trabalho futuro.
“Nós tínhamos no Marajó um projeto chamado Cavalgar, que ensinava às crianças as práticas com os búfalos, no horário depois das aulas. Como resultado, tínhamos crianças mais confiantes, saudáveis e com melhor rendimento escolar. Por isso, acredito que investir nas famílias para que elas trabalhem com o búfalo é resultado garantido. O que falta são recursos para que as famílias possam adquirir o gado leiteiro, e abastecer as queijarias”, afirmou Carlos Augusto Nunes.
No “Laticínios Mironga” é a experiência da queijaria que pode motivar projetos futuros, tanto na produção de queijo quanto no desenvolvimento da cadeia produtiva. A criação de búfalos no Marajó é constantemente compartilhada com o cultivo de frutas e plantas medicinais.
Outra forte tendência de negócios em Soure é o artesanato local, que pode desenvolver uma cadeia abrangendo o fornecedor de matéria prima, passando pelos artesãos e pela venda dos produtos.
Couro de peixe – Experiências como a desenvolvida pela Cooperativa Mista Agrícola e Agroindustrial de Salvaterra (Comaas), na comunidade Caldeirão, que beneficia a pele de peixe para confecção de calçados e bolsas, além de outros resíduos do pescado para fabricação de ração e adubo, são exemplos de como a iniciativa da comunidade pode gerar renda e ainda ajudar o meio ambiente, aliando dois preceitos importantes nos negócios sociais.
A cooperativa recicla cerca de três toneladas de resíduos de pescado de uma fábrica de beneficiamento de peixe. O lixo orgânico, que seria descartado, é transformado em produtos de consumo 100% biodegradáveis.
“A cooperativa foi criada com recursos próprios e cresceu com a dedicação e trabalho dos cooperados. Com uma linha de financiamento que a gente pode pagar, conseguiríamos expandir nossos negócios, aumentar nossa renda e ampliar a rede de cooperados. Já beneficiamos a pele do peixe e gostaríamos de produzir sapatos e bolsas, que atualmente são fabricados por uma terceirizada”, informou Gabriel Mendes, presidente da Comaas.
Uma cooperativa de extração de óleo de andiroba e de coleta de sementes, como murumuru, pracaxi e tucumã, localizada na vila de Joanes, também foi visitada pela comitiva.
Nesta quarta-feira (13), a comitiva esteve no município de Cachoeira do Arari, e começou a visita técnica pelo Museu do Marajó. O professor Latifee conheceu ainda o trabalho de costureiras e bordadeiras, que se uniram em cooperativa por meio do Museu do Marajó. Ele fez questão de incentivar o trabalho das mulheres e a ampliação dos negócios. O mesmo aconteceu na cooperativa Ecorecicle, voltada à coleta e venda de material reciclável.
O cooperado Arilson Dias, 22 anos e pai de duas crianças, explicou como funciona a rede de cooperados, e frisou a expectativa com o futuro da cooperativa. Um dos pontos enfatizados foi que a cooperativa deve se ver como um empreendimento, um negócio, para que se organize como tal e dependa, cada vez menos, de ajudas externas.
“Essa conversa foi muito boa. Tenho certeza que se a gente se organizar melhor vai conseguir tornar a nossa cooperativa em uma empresa grande e lucrativa”, concluiu Adilson Dias. À tarde, a comitiva partiu para o município de Breves.

Fonte: Agência Pará
Extraído de: Marajó Online

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